27 de abr. de 2010


MORTE EM VENEZA

ou

(um ensaio de Visconti sobre a ilusão, a duplicidade e a mentira)

Parte II

Há dois factores que se assumem, que não nos deixam dúvidas, desde o início do filme: o papel fundamental do Adagietto da Quinta Sinfonia de Mahler, como elemento da narrativa, mais do que simples emolduramento sonoro.

O segundo facto é, desde logo, a atracção do professor Gustav (por certo uma homenagem ao compositor Gustav Mahler) pelo jovem efebo, Tadzio, ponto esse que determina o desenrolar da narrativa.

Há porém um facto que se apresenta num plano secundário, quase imperceptível, que, no entanto, acho de importância para esclarecer o subconsciente dos personagens. Parece-me, que o professor terá tido uma ligação amorosa com a mãe de Tadzio no passado, pois a mulher que ele recorda (ou sonha) num idílio campestre em feliz convívio amoroso com ele, parece-me a mesma que esconde o rosto com um creme branco e com o véu rendado que lhe desce do chapéu magnânime.

No presente em que decorre o filme, são ambos tentados pela paixão homossexual, ela por uma rapariga a quem põe a mão no ombro, na praia, e ri, no único momento de descontracção durante todo o filme.

Ele, severo defensor da moral e dos costumes, deixa-se apaixonar pelo filho da mulher que (outrora amou?) em sonhos (dele), lhe oferece o filho, quando o chama…para que o professor lhe acaricie o cabelo.

Enquanto ela se esconde por detrás duma pose silenciosa, rígida, apagada, ele não consegue manter a máscara, e apaixona-se por um…rapaz, o que vai solenemente contra a moral que ele tanto defende.

Por falar de ilusão e de máscaras, é de notar que o velhote que se despede do professor, com um riso trocista, quando este se apresta para sair do Vaporetto, com um “Our best whises, signore!” faz-me pensar: mas afinal quem é e o que representa esta personagem? É licito perguntar.

Se o professor o despreza pelo seu aspecto e pelo tom trocista, é por demais curioso, que é assim vestido (travestido) e com o rosto maquilhado como o velhote que dele se ri, que ele vai encontrar a morte. Será absorvido pela ilusão, a máscara, a mentira da cidade.

Chegou à cidade de barco, não a morte, como Nosferatu, veio, isso sim, para aí a encontrar, na cidade dos sonhos mais românticos (e é pelo coração que ele se perde).

A cidade infestada pela peste, pelo cheiro pestilento, que é desinfectada com líquido branco (o mesmo branco das máscaras de beleza), para manter a aparência da beleza que nos é dada pelos postais turísticos.

Num filme marcado pelos contrastes, é curioso ver como o público que assiste ao concerto que o professor orienta, o apupa, a ele e à sua musica, demasiado esquemática, matemática, estruturada, elaborada, numa palavra: “fechada”, em contraste com a musica de gosto popular que (talvez as mesmas pessoas) aplaudem na esplanada do hotel, na noite em que lá entram os músicos-pedintes. Sequência magistral.

Há um conjunto de rejeições que vão empurrando o professor Gustave para a sua derrota espiritual, para a morte, enfim.

O seu amigo(?) Alfred (figura que muito se assemelha à de Gustav Mahler) critica severamente a sua música, o público rejeita-a; Tadzio sempre se esquiva, não se entrega. Apenas, nos momentos finais do filme, quando vai entrando pelo mar adentro, Tadzio lhe estende o braço ao longe, e é então que o professor em agonia, lhe tenta estender a mão….mão que se recusou à mão de Esmeralda (a prostituta) quando esta apertou a sua, no bordel.

Esmeralda é também o nome do Vaporetto que transporta o professor até Veneza, a cidade que o emaranha na teia da ilusão, da duplicidade, da máscara, da mentira.

26 de abr. de 2010

S de Sarcasmo - Breve comentário sobre Billy Wilder.

É preciso conhecer o cenário político, social e artístico da Áustria do início do século XX para entender a formação da personalidade de Billy Wilder.

Não é de se estranhar que um judeu austríaco, nascido em Viena no ano de 1906 e que cresceu sob o peso da cultura alemã tenha formado desde cedo uma visão tão dura, amarga e realista da vida.

À época, os salões de Viena estavam entorpecidos pelas sinfonias de A Viúva Alegre, de Franz Lehár, e o sucesso das salas de concertos era a cataclísmica melodia de Assim Falou Zaratustra, de Richard Strauss.

Foi neste cenário, ao tempo que eclodia a Primeira Guerra Mundial, que Wilder desenvolveu toda sua descrença na humanidade e seu mórbido senso de humor, que viria mais tarde a apresentar ao mundo em Hollywood.

Faz parte do currículo básico de todo cinéfilo assistir à Sunset Boulevard, de 1950. O filme começa com um cadáver boiando numa piscina, narrando em off e em flashback os acontecimentos que o levaram até lá.

É um retrato sobre uma esquecida estrela do cinema mudo vivendo refugiada em sua burlesca mansão, sonhando com um triunfal retorno que nunca acontecerá. Um filme que vê através das aparências.

-''Você costumava ser maior'', diz o personagem de William Holden, Joe Gillis.

-''Eu sou a maior. Os filmes é que ficaram pequenos'', responde Norma Desmond, magnificamente interpretada por Gloria Swanson, que escorrega pelas extremidades do simulacro.

Mas neste filme nenhuma performance tem tanto eco como o de Erich Von Stroheim, interpretando Max Von Mayerling, outrora grande diretor da era muda do cinema e que fora o primeiro marido de Norma, agora diminuido a trabalhar como mordomo de sua estrela.

Aqui, em uma cena, os parceiros no jogo de bridge de Norma, interpretados por antigas estrelas da era muda como Buster Keaton e Anna Nilsson, são despiedosamente chamados de ''museus de cera'' por Joe Gillis.

Na época o filme provocou protestos dos saudosistas, que não gosotaram nada de ver seus antigos ídolos do passado retratados como peças de museus.

Nos filmes de Wilder, o ser humano, mesmo que redimido, acaba sempre por revelar sua pior face.

Ora, sua intenção era apenas ofender toda a humanidade, revelando justamente essa face cruel inerente à todas as pessoas. Que mal há nisso?

Outro título obrigatório é Double Indemnity, um dos maiores clássicos do cinema Noir, para muitos um filme que define o gênero. A história é sobre uma mulher que convence seu marido a fazer um pomposo seguro de vida para depois tramar com o próprio agente de seguros a sua morte.

-''Fiz isso por dinheiro e por uma mulher. Acabei sem o dinheiro e sem a mulher'', diz Walter Neff, interpretado por Fred MacMurray.

Ou a magnífica cena final, na qual o personagem de Edward Robinson acende o último cigarro para MacMurray. -''Me dê 24 horas para chegar ao México'', diz Neff. -''Você não chegará nem ao elevador'', diz Barton Keyes, que nutria um carinho paternal por Neff.

Em suas comédia românticas, por exemplo, não encontramos cenas de amor melosas. Aliás, seus heróis românticos prediletos eram as prostitutas e os gigolôs, ou quem tivesse uma vocação para estas singularidades.

Jamais esquecerei, por exemplo, a cena final em Some Like It Hot, onde Jack Lemmon tenta se esquivar dos avanços do milionário que pensa que ele é mulher e quer casar-se com ele.

-''Fumo demais'', diz o personagem de Lemmon.
-''Não me importo'', responde o milionário.
-''Não posso ter filhos'', insiste Lemmon
-''Tudo bem'', insiste o senhor.
-''Ah, é? Eu sou homem!'', exclama Lemmon arrancando a peruca.
O milionário nada se abala: ''Ninguém é perfeito.''

Sua enorme falta de fé no ser humano não representava apoio às piores qualidades, mas uma inaceitada faceta que fazia questão de tornar evidente.

Wilder foi roteirista de todos os seus filmes, mas sempre em parceiria. Dentre outros, trabalhou com Charles Brackett na Paramount em roteiros dirigidos por Lubitsch, Hawks e Mitchell Leisen, e mais tarde em filmes que Brackett viria a produzir e Billy dirigir. Mas seu grande parceiro foi o romeno Izzy Diamond, seu colaborador em uma dúzia de filmes, dentre eles títulos como Some Like It Hot, The Apartment e Irma La Douce.

Em 1994, durante a entrega do Oscar de melhor filme estrangeiro pelo filme Sedução (Belle Epoque), o diretor espanhol Fernando Trueba disse para os bilhões de telespectadores que assistiam à cerimônia: ''Se acreditasse em Deus, agradeceria para Deus. Mas, como não acredito, agradeço a Billy Wilder''.

No dia seguinte Trueba recebeu uma ligação: ''Senhor Trueba, aqui fala Deus.''

Era Billy Wilder.


***

Referência: Livro 'Saudades do Século 20', de Ruy Castro.

“OS MEUS FILMES DO BLOG”



Morte em Veneza


Parte I

(uma primeira impressão, em jeito de balada)

Quando se cumprem os 5 primeiros minutos de Morte em Veneza, cumprem-se “os meus 5 minutos de cinema”, feitos de romantismo profundo, quanto o deve ser a profundidade negra daquelas águas obscuras, tão obscuras como os fumos exalados pela chaminé do Vaporetto, qual barquinho de brincar, que logo desaparece do plano.

Signore Visconti, aristocrata, dos Visconti de Milão, outrora donos de parte da cidade, criador de cavalos, encenador de ópera, realizador de cinema e tudo, tudo pôs neste filme tão autobiográfico. Aqui esboçou o que pretendia fosse o filme seguinte, adaptação do imenso “Lá Recherche du Temps Perdu” de Proust; projecto a que nunca chegou a deitar as mãos, e Lá Recherche se corporizou sobretudo neste filme, filme de olhares, escrito sem quase falas nenhumas, escrito pelo silêncio cúmplice dos 2 protagonistas (o professor Gustav e o jovem Tadzio) que se entre-olham constantemente, escrito pela câmara de Visconti que olha constantemente os mestres da pintura impressionista do séc. XIX francês, nestes cenários novecentistas, para traçar a história do professor que figura a decadência física e moral, o declínio, a morte.

Um filme do tempo que passou, à lá Proust.

Os minutos do professor Gustav no bordel são minutos de pintura, minutos em que contemplamos Renoir (o pintor) e Toulouse de Lautrec (também). No resto é James Ensor (pintor belga, pintor de máscaras) e Manet pelo guarda roupa, Manet pleno de luz… cheio de graça (divina).

25 de abr. de 2010

O porquê do "My One Thousand Movies"

Hoje vou falar um pouco das raízes do "My One Thousand Movies".
Por volta do mês de Abril de 2008 a minha vida cibernáutica deu uma grande volta. Nesse mês comprei um computador novo e coloquei-lhe uma internet de downloads ilimitados. Até então, com um limite de 2 gb internacionais e um pc fraquito não me podia aventurar muito a ver filmes da net, mas com estas novas aquisições já o podia fazer.
Na altura frequentava blogues como o Cinema Cultura, que na minha opinião era o melhorzinho. Os blogues que havia então, eram na generalidade muito mediáticos, cujo objectivo era apenas de ficarem conhecidos, e de ganharem algum dinheiro às custas disso. Algo que eu sou perfeitamente contra, e nunca quererei ganhar um tostão com o "My One Thousand Movies".
Normalmente esses blogues só postavam filmes muito recentes, muitos deles que nem sequer tinham estreado ainda, e de qualidade muito duvidosa. O chamado cinema-pipoca.
Certo dia, eu procurava o "Plan 9 From Outer Space" do Ed Wood Jr, sem sucesso, e vi-me obrigado a usar as torrents. Este foi o primeiro filme que eu converti em Rmvb, e ficou óptimo.
Foi então que me apercebi que podia fazer a diferença. Podia fazer um blog apenas com filmes que não se encontrassem nos outros lados, filmes de culto, raros, antigos, obras-de arte e virado para o público que falasse português. Deitei mãos à obra, e comecei por espalhar o blog apenas pelos meus amigos. Aliás, nunca o divulguei muito para além dos meus amigos, mas o certo é que ele foi crescendo, e agora é visitado diariamente por mais de 700 pessoas.
700 pessoas nem é um número elevado, tendo em atenção o tempo que o blog existe e o conteúdo. Mas eu prefiro que ele continue sempre assim, como um espaço alternativo, marginal, enfim de culto, para todos os cinéfilos e para os verdadeiros amantes da sétima arte.

Porque "My One Thousand Movies", perguntam vocês...
A razão do nome, vem do meu eterno livro de mesa de cabeceira, "1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer". Sendo este livro uma autêntica Biblia para mim, eu não queria estar a repetir todos os filmes que neste eram falados porque isso, ao fim ao cabo, era ser um pouco básico. Embora a maioria desses filmes fossem inevitáveis neste blog, resolvi enveredar por outro caminho, o caminho menos provável, mais dificil de conquistar a simpatia das pessoas.
Por certo que muitas pessoas que passaram pelo "My One Thousand Movies" não gostaram desde blog, e pensaram que ver filmes antigos, desconhecidos, a preto e branco não era bem aquilo que procuravam. Mas também houve outros que por lá ficaram, e consideram este site como uma nova "casa".



Agora em relação ao logo que podem encontrar no topo da página, já me perguntaram várias vezes, porquê aqueles filmes.
Eu nunca fui um especialistas em fazer sites, logos ou whatever na internet. O primeiro logo que fiz era um pouco básico. Tinha uma foto do filme "Blade Runner", para sempre o meu filme preferido, e umas letras onde se podia ler "My One Thousand Movies.
O segundo logo, que ainda perdura, foi também feito da maneira mais rudimentar possível, com o paint. Também nunca foi da minha idéia fazer uma coisa fenomenal, mas que simbolizasse um pouco o espírito do blog. Isto do "espírito do blog" é uma expressão engraçada, mas por certo que algumas pessoas já entenderam.
Quando fiz o novo logo, tive de deixar de fora o "Blade Runner" e escolhi fotos de 6 filmes que já se podiam encontrar por lá. A saber:

"Braindead", de Peter Jackson - Eu sou um grande fã da fase inicial do Peter Jackson. Um dos primeiros ciclos que fiz (se é que se pode chamar de ciclo) foi com os 4 primeiros filmes da sua carreira. Era indespensável uma foto que simbolizasse isso, e escolhi uma do "Braindead", que dos quatro é o meu preferido.

"A Desaparecida", de John Ford - Sempre fui um fanático pelos westerns, e esta foto simboliza isto. Na minha opinião, o melhor western de todos os tempos. Um filme cheio de ódio, cheio de raiva, cheio de fúria. Ao mesmo tempo aplica-se bem ao espírito que eu tento encutir no blog. Está no meu top 5 de filmes preferidos.

"Taxi Driver", de Martin Scorcese - Um filme que certamente estará no meu top 10 de sempre. Uma obra-prima, que talvez seja o melhor filme dos anos 70. Do grande senhor Martin Scorcese, que tem no seu historial o melhor filme dos anos 70 (este) e o melhor filme dos anos 80, "O Touro Enraivecido". Isto na minha opinião, claro. Por falar no Scorcese, já viram o "Shutter Island"?

"Henry - Retrato de Um Assassino", de John McNaughton. Esta pérola é um dos maiores orgulhos do meu blog, a cereja no topo do bolo. Comecei por ouvir falar neste filme no início dos anos 90. Fiquei impressionado com as críticas que li na altura. Nunca o considerei bem um filme de terror, mas era uma obra brutal, fria, calculista. Procurei-o durante anos, mas sem sucesso. O filme nunca saíu em DVD em Portugal, e penso que também nunca saíu em videocassete. Acabei por comprá-lo numa versão internacional. Procurei-o por toda a internet até que o achei em avi, e as legendas em português não foram fáceis. Penso que quando o postei no meu blog, foi a primeira vez que o o filme podia ser encontrado legendado na nossa língua. E orgulho-me muito disso.

"Evil Dead", de Sam Raimi - Sendo eu um amante da "série b", especialmente da "série B" de terror, esta trilogia tinha de marcar presença no meu blog. Obrigatoriamente a trilogia foi uma das minhas primeiras postagens. Nunca um filme de terror foi tão divertido, com um sentido de humor tão negro, tão fantástico, e feito com tão pouco dinheiro. Uma obra de arte.

"Cão Branco", de Samuel Fuller. Quando iniciei o blog, pouco conhecia da carreira do Samuel Fuller, a não ser que era um cineasta marginal. Filme após filme, fui-me deslumbrando, e senti a necessidade de partilhar isso com as pessoas. "White Dog" na realidade não é o melhor filme de Fuller, mas tem tudo daquilo que eu gosto na carreira do realizador. É mais um filme marginal, muito mal interpretado na época do seu lançamento e como tal indespensável no "My One Thousand Movies".

Espero que tenham ficados esclarecidos. Obrigado a todos pelo vosso apoio, especialmente com este blog.

24 de abr. de 2010

Neo-Western, o agradecimento devido a Clint Eastwood


Que ninguém duvide, o western é um género cinematográfico de excelência. Foi um dos alicerces da indústria do cinema americana, foi dele que saíram obras incontornáveis, marcos da história fílmica. Não é preciso ir longe, mesmo aqui em baixo se encontrarão muitos dos exemplos de que falo. Cúmulo da injustiça, sinal de ingratidão, foi o género sacrificado da primeira grande crise que abalou Hollywood. Quando Scorsese, Coppola, os movie brats, a reergueram, o western não se reergueu com eles.

Houve, felizmente, quem não se conformasse. Clint Eastwood, há coincidências brilhantes, o seu nome é um anagrama de Old west action, preparou-se para a travessia do deserto. Fundou a sua produtora, a Malpaso, e fez-se ao caminho. Demasiado novo para que se deixar ficar encostado aos velhos mestres, mais velho que os jovens que despontavam, fundando caminho próprio, não abandonou as suas convicções. Devoto à sua ideia de cinema tornou-se realizador e protagonista dos seus westerns. Mais do que o redutor título, o último clássicos, Clint Eastwood refundou um género. Depois da longa cruzada foi-lhe justamente reconhecido o estatuto de autor. O Neo-Western é também, mas não só, o revisitar da grande planície americana. Vai buscar a sua essência mais funda, a necessidade de vingança, a luta contra a ganância. O ideal americano de justiça. Se possível for mantendo aridez do cenário. Mas se preciso for trazendo esses ideais para fora do oeste, veja-se Bronco Billy. E não é Gran Torino um western em ambiência urbana?

Começa agora a surgir quem de novo sirva o género. Não prescindido da memória, respeitando sempre o que já se fez, homenageando os mestres. Os novos westerns reconstroem a América assente em nostalgia e tradição. Respeitam a secura do estilo mas redesenham os enquadramentos em câmara lenta, numa leveza e paciência que não desconsidera a cadência acelerada de Ford, Hawks, Mann, Peckinpah e tantos outros.

A mim é o tipo de vanguarda que me agrada, com memória. Os pés e o coração assentes na história, o cérebro descortinando novos caminhos.

O título em português de Pale rider (1985), “Justiceiro Solitário”, assenta brilhantemente em Clint Eastwood. Sempre que acabo de ver um dos seus filmes, faço-lhe uma vénia. Todos lhe devemos isso. E muito mais.

23 de abr. de 2010

Western - O género esquecido

E digo esquecido porque, ao contrário do Noir, ele não desapareceu totalmente. Aliás nesta decáda passada já houve Westerns fantásticos como Open Range (2003), 3:10 to Yuma(2007), Seraphim Falls (2006), The Proposition (2005), Appaloosa (2008) e o alucinante e pouco convencional Sukyaki Western Django (2007) mas em geral são de facto muito poucos. O género quase que desapareceu nos anos 80 onde aliás só conheço um que valha a pena mencionar, Silverado (1985), mas nem este é muito bom. Nos anos 90 já houve alguns sendo o mais notório Unforgiven (1992). Tombstone (1993) descreve-nos uma das mais conhecidas batalhas do velho Oeste (a de OK Corral) na perfeição, Quick and the Dead (1995) foi mal recebido mas eu até gostei bastante, Back to the Future 3 (1990) tem um lugar especial no meu coração quanto mais não seja por ser a conclusão da brilhante trilogia, Dead Man (1995) de Jim Jarmusch é em primeiro lugar um filme de Jarmusch mas ainda assim um western essencial dos anos 90. Recentemente surgiu um novo conceito, o de NeoWestern, o qual eu não percebo muito bem e que abrange vários géneros. Foi mais falado no ano de 2007 muito devido a There Will Be Blood (que deveria ter levado o Óscar...) e No Country for Old Men (que não deveria ter levado o Óscar...) mas inclui outros exemplos como Down in the Valley (2005), Dear Wendy (2005) a série de ficção cientifica Firefly ou mesmo Brokeback Mountain (2005). O melhor de todos estes NeoWesterns é The Three Burials of Melquiaes Estrada (2005) um filme irrepreensível com uma performance fantástica de Tommy Lee Jones. No entanto para mim Westerns serão sempre Cowboys e pistolas, Eastwoods e Waynes, e tenho realmente pena que o género esteja a desaparecer e se produzam tão poucos porque quando um Western é bem feito é sempre o género de filme que produz imagens mais bonitas e cinematografias mais espectaculares. Esta minha paixão acentuou-se após visita ao próprio velho Oeste onde tive o prazer de visitar os estudios de Old Tucson e a cidade de Tombstone onde ocorreram alguns dos mais conhecidos eventos e onde viveu muito cowboy the barba rija!

A título de curiosidade aqui ficam os que são para mim os 15 melhores Westerns de sempre:

Menções Honrosas (de filmes que ainda não foram falados em cima): Few Dollars More (65), A Fistful of Dollars (64), The Ox-Bow Incident (43), Dances with Wolves (90), Hud (63), My Darling Clementine (46), The Great Silence (68), She Wore a Yellow Ribbon (49), The Magnificent Seven (60), Stagecoach (39), Red River (48), The Gunfighter (50), Outlaw Josey Walles (76), Shane (77), Fort Apache (48), Bring Me the Head of Alfredo Garcia (74), Lone Star (96), Rio Grande (50), High Planes Drifter (73), The Great Train Robbery (1903), Red River (48), The Shootist (76)

15 - McCabe and Mrs Miller (71) - Dirigido por Robert Altman é talvez o filme mais difícil de ver nesta lista, principalmente devido ao péssimo som nos primeiros minutos, mas quem lhe der oportunidade vai encontrar um Western fenomenal com uma bela cinematografia em tons sépia, duas magníficas performances de Warren Beaty e Julie Christie e muitos toques Altmanianos. Talvez seja este o primeiro NeoWestern?

14 - Pat Garret and Billy the Kid (73) - Primeiro filme de Sam Peckinpah (terceiro melhor realizador de Westerns) nesta lista e o último grande Western que ele realizou, conta a história de um dos mais famosos mafiosos do velho Oeste. Essencial.

13 - The Wind (28) - O primeiro grande Western, realizado por Victor Sjostrom, não contém muitos dos toques que nós agora conhecemos como típicos do género, mas introduziu um dos mais importantes, o vento.

12 - Rio Bravo (59) - De longe o melhor dos filmes de Howard Hawks com John Wayne, está tudo dito.

11 - The Man Who Shot Liberty Vance (62) - Primeira parceria de John Ford (segundo melhor realizador de Westerns) com John Wayne a aparecer nesta lista. Conta também com a presença do sempre fantástico Jimmy Stewart e é o último grande filme de Ford.

10 - High Noon (52) - Realizado por Fred Zinnemann e com a participação de Gary Cooper e Grace Kelly. John Wayne não gostou e chamou-o de anti-Americano. O eterno cowboy desta vez estava meio errado. High Noon não é só Americano, as suas emoções são Universais.


09 - The Wild Bunch (69) - O melhor filme de Peckinpah. Extremamente violento, conta a história de um velho grupo de foras-da-lei que receavam que o velho e tradicional Oeste estava a desparecer. Peckinpah quase advinha o fim do género cinematográfico que tanto amava.


08 - The Treasure of Sierra Madre (48) - Realizado por John Huston e com a sempre fantástica presença de Humphrey Bogard é outro Western menos convencional que retrata a corrida ao Ouro.


07 - Butch Cassidy and the Sundance Kid (69) - Realizado por George Roy Hill é um dos melhores buddy-films jamáis feitos. O guião por William Goldman é dos melhores jamais escritos. A cinematografia uma das mais bonitas jamais projectadas. E as performances de Paul Newman e Robert Redford das mais icónicas que jamais habitaram o mundo dos filmes. Sem dúvida um dos melhores filmes de sempre.


06 - Unforgiven (92) - O tributo de Clint Eastwood ao género que o tornou conhecido.
É dedicado a Leone e Peckinpah e o filme do velho Clint transpira toques dos velhos mestres sendo ao mesmo tempo original. Uma carta de amor ao género.


05 - The Searchers (56) - Realizado por John Ford é considerado pela grande maioria das pessoas o melhor Western Americano de todos os tempos e é fácil e simples entender porquê: combina tudo o que há de melhor dos filmes com o eterno cowboy John Wayne. Uma obra prima, o melhor filme de Ford.


04 - Deadwood (04-07) - Não é um filme, é uma série de TV, mas tinha de estar incluído nesta lista pois é de longe o que melhor retrata o velho Oeste, talvez a único obra realmente verdadeira ao que se passou durante aquela altura. Com participações inesquecíveis, principalmente de Ian McShane, com mais "Fucks" que South Park e com uma direcção artística capaz de rivalizar qualquer filme. Criada por David Milch é a melhor série de sempre (sim melhor que Sopranos e the Wire) e uma viagem obrigatória para qualquer fã de Westerns que se preze.


03 - The Good, the Bad and the Ugly (66) - Realizado por Sergio Leone (o melhor realizador de Westerns de todos os tempos), é considerado pela maioria das pessoas o melhor Western de todos os tempos. Épico e com uma participação inesquécivel de Clint Eastwood contém todos os traços característicos do Spaguetti Western. Ainda mais impressionante é o facto dos outros dois filmes desta trilogia do Homem Sem Nome (a Fistful of Dollars e For a Few Dollars More) serem quase tão bons como o épilogo.


02 - The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford (07) - Pode parecer estranho que eu coloque um filme tão recente e tão pouco conhecido no topo desta lista e à frente de todos estes clássicos mas é fácil perceber porque. Foi o único grande Western que eu vi no cinema e de facto não há nada como o grande ecrã. Tudo é perfeito neste filme, a música (de Nick Cave), a história, a beleza da cinematografia com aqueles close-ups como os de Leone e aqueles Long-shots das vastas planícies cobertas de neve, as silhoetas nas linhas do comboio... Conta também com actores excepcionais como Sam Rockwell e Brad Pitt no papel principal mas a verdadeira estrela do filme é Casey Affleck que nos oferece aquela que é de longe uma das melhores performances de sempre. A cena em que ele mata Jesse James é pura magía cinematográfica. Foi um crime ele ter perdido o Óscar para Javier Bardem e é um crime este filme não ser visto por mais pessoas. Realizado por Andrew Dominick, este não só é o melhor filme de 2007, é também um dos melhores filmes da década passada e um dos melhores de sempre.


01 - C'era una volta il West (68) - Que outro filme poderia estar no topo da lista que não este? É um épico de 3 horas que basicamente define o género. Todas as cenas são clássicos mas tomemos como exemplo o príncipio. Três homens esperam um comboio, nenhuma palavra é dita, apenas se ouve a monumental banda sonora de Enio Moriccone, a cinematografia das mais bonitas alguma vez projectadas. É obvio que estes três homens esperam algo ou alguém que vem naquele comboio mas ao contrário da maioria dos realizadores que saltariam logo para a chegada deste, Leone "perde" (ganha) tempo na espera oferencendo-nos um festim visual e auditivo como muito poucos... Quem precisa de palavras? As emoções estão todas lá. E é por isto que Leone é um dos poucos verdadeiros mestres do cinema, faz milagres com a sua camêra e é esta a verdadeira arte o cinema. Muitas vezes imitado (especialmente aqueles close-ups) mas nunca igualado nem superado, Once Upon a Time in the West, será para sempre o melhor Westen de todos os tempos.


22 de abr. de 2010

JCM e o seu famoso Audiobook

Desde já queria agradecer a todos os que criaram este blog por poder nele participar. É um prazer estar no meio de tantos fãs da 7ª arte. Agradecimento especial ao Chico pelo grande blog que criou e que é muito mais serviço público do que aquele que o nosso estado e a nossa televisão nos oferece.

Passando ao post propriamente dito...

Tenho pena que com tantas obras de arte no cinema, se continue a falar tanto sobre JCM, porque sinceramente acho que não merece a nossa atenção. Quem acompanha o fantástico blog que o Chico criou é capaz de já conhecer o meu ponto de vista sobre JCM, mas já que se fez um espaço para discutirmos cinema, aqui vai, pela última vez, a minha opinião acerca de JCM.

Admito desde já que não sou grande fã. Vi a trilogia de João de Deus e um pouco do Branca de Neve. Gostei de Recordações da Casa Amarela (embora achasse que tinha muitas cenas ridiculas, pintelhinho pintelhinho és um belo pintilhinho??...), os outros dois filmes da trilogia foram-me completamente indiferentes (e com outras tantas cenas rídiculas como a da gelataria...). Já Branca de Neve não o foi, mas não o foi pela pior das razões, porque senti que um pretencioso "auteur" estava a gozar com a minha cara de ignorante do "povo portugues".

Vamos lá ver uma coisa (que não seja um ecrã negro)... poderei eu editar um livro sem palavras?? ou compor uma música que seja silêncio?? e "pintar" um quadro que seja uma tela em branco?? Secalhar até podia, e talvez haja quem achasse que eu era um grande inovador que sabia que o verdadeiro significado da arte é fazer as pessoas pensar. Podia justificar que não gostava de coisas fáceis e que queria compor uma música para fazer com que as pessoas que possuem o sentido de audição podessem imaginar o que é música para uma pessoa surda, ou que queria que todos se tornassem escritores e imaginassem o seu próprio livro.
Como estas haverá muitas outras explicações que eu podia dar, JCM por exemplo quis fazer um filme para se ver com o olho do cú... O problema destas explicações é que são, num termo simpático, ridículas, porque um livro só é um livro se tiver palavras e uma música só é música se tiver sons... e um filme só é um filme se tiver cinematografia...

Há obras que são díficeis, que pouca gente do público geral, gosta. Lembro-me por exemplo das duas últimas obras do escritor James Joyce. Pouca gente haverá que, não sendo estudiosa na area das letras, tenha prazer ao ler Ulysses ou Finnigan's Wake, mas de facto não pode haver ninguém que diga que estes não são livros...
Este exemplo aplica-se também ao cinema... não haverá por exemplo, muita gente a se dedicar aos 450min de Sátántángo. Mas Branca de Neve não é um filme difícil, porque pura e simplesmente não é um filme, falta-lhe cinematografia, que é o que define cinema...
Claro que haverá quem diga que o filme vai para além de uma definição purista de cinema, mas não será isto uma desculpa fácil? Como pode uma coisa ser o que não é?

O triste nesta história toda é que pouca gente que é fã de Branca de Neve admite que a obra (já não lhe chamo mais filme) tem de facto uma definição. Branca de Neve é um audiobook... pode ser uma história belissima (sinceramente a mim não me cativou), mas não deixa de ser um audibook. Se me vendessem Branca de Neve como um audibook eu não teria razão para não gostar de JCM, apenas não gostava da sua obra mas o facto de me ter sido dito que isto era um filme, principalmente por aqueles que deveriam saber melhor que ninguém definir o que é um filme, revolta-me como fã da própria arte do cinema.

Não tenho conhecimentos suficientes para dizer se Branca de Neve é uma obra de arte... talvez até seja, mas de uma coisa tenho a certeza, cinema não é.
Arte - talvez
Audiobook - sim
Cinema - nunca

JCM pouco me diz, acho-o antipático, pretenciso, o tipo de artista que se acha mais que os outros e que não sabendo mais o que fazer para dar nas vistas tentou ser polémico para não se esquecerem dele quando morreu (infelizmente conseguiu e pos muita gente a falar, o que escrevo aqui é exemplo disso mesmo).

Eu, quando quiser ver bom cinema Português, vejo um filme do Mestre. Ao senhor JCM mando-o foder, tal como ele me mandou a mim.


Filmes:

21 de abr. de 2010


O Experimentalismo no Cinema (parte I):

“Branca de Neve” de João César Monteiro.


E se a grande provocação de “Branca de Neve” fosse, afinal, não haver provocação nenhuma?

- Luis Miguel Oliveira, in “João César Monteiro”, edição da Cinemateca Portuguesa


Não é por mero gosto provocatório que tomo o partido do autor das palavras que citei; inclino-me, isso sim, a comungar da lógica de L. M. O. por reconhecer aceitável validade nos argumentos que baseiam a sua perspectiva.

Desde logo, penso ser de utilidade referir “Fragmentos de um Filme-Esmola”, como a obra em que o realizador havia já esboçado (durante alguns minutos de película) a ousadia extrema de “Branca de Neve”: o ecrã negro.

Sobre essa obra, datada de 1972, tão próxima da performance teatral, L.M.O. refere que o que interessou a César Monteiro foi o jogo dos corpos e o jogo com o tempo, sem mexer no enquadramento, mas iluminando os personagens de forma a que fossem sobretudo corpos.

Recordo-me das telas a negro do pintor Malevitch, realizadas na década de 50 do século passado, quando L.M.O. lança a seguinte proposição: Escandaloso, no ano 2000, um filme que deixa o ecrã, durante quase todo o filme, negro? Claro que não, claro que o escândalo nuca poderia ser de ordem estética.

Tentemos então esquecer a polémica e façamos justiça a “Branca de Neve”. Este é um filme que, se calhar, como mais nenhum, nos convoca, literalmente para um “quarto escuro”, onde há vozes de pessoas que lêem um texto e contam uma história. Somos reconduzidos ao tempo em que, nas mesmas circunstâncias, ou quase, uma ou várias vozes nos contavam histórias num quarto escuro.

Há qualquer coisa em “Branca de Neve”, que não só tem a ver como exige do espectador a capacidade de se disponibilizar para essa experiência, solicita-lhe uma capacidade de entrega, de se depositar assim, no escuro e nas vozes, entre o que lhe faz medo e que o reconforta.

Quando se acende a luz, dói; é como se fôssemos expulsos do filme, do “escuro” retemperador, assim como a Branca de Neve foi expulsa do “país dos anões”.

Em “Branca de Neve”, podemos não ver corpos nem “décors”, mas vemos seguramente palavras, um texto, sentidos.

E é então que o autor das linhas que venho citando, conclui o seu texto, dizendo: E se a grande provocação de “Branca de Neve” fosse, afinal, não haver provocação nenhuma?

E é desta forma que termino como comecei; afinal de contas aquilo para que nos convoca a performance de César Monteiro, um retorno ao "início", a uma experiência dos tempos de infância.


19 de abr. de 2010

Câmara Clara

Enquanto o blogue não ganha balanço e se juntam mais filmes aos três já aqui referidos, deixo uma pequena sugestão. O Câmara clara desta semana, onde se debateu a viabilidade do cinema português e as suas formas de financiamento, o ICA e o FICA. Participantes, João Salaviza, vencedor da palma de ouro em Cannes e Inês de Medeiros, presente no My onde thousand movies pela mão de Pedro Costa, o grande: em O sangue, Casa de lava e Ossos.
É seguir o linque:

15 de abr. de 2010

Um olhar sobre o MY ONE THOUSAND MOVIES


Já que estamos começando pelo que nos levou ao encontro deste magnífico blog.

Era Outubro de 2008, e estava em busca do filme “Henry - Portrait Of A Serial Killer”, que como sei é venerado pelo nosso mentor O Grande Chico. Entretanto, o que me levou a digitar este texto, foi outro filme com psicopata. O novo trabalho de Peter Jackson “The Lovely Bones”.

Francamente não entendi por que tanta gente criticou o filme de forma tão negativa. O suspense funciona bem, a fotografia é lindíssima, as atuações aturáveis, o roteiro é o que se espera de uma adaptação do género e até se assemelha com Shyamalan, tem muitas falhas, mas nada que tire a sensação vibrante de ver uma obra deste diretor.
Jackson me lembrou de dois filmes em especial, “What Dreams May Come” mais pela arte visual, e “A Matter of Life and Death” que também se divide em um mundo espiritual e um mundo natural.

De certa forma como a menina de “The Lovely Bones”, nos frequentadores deste espaço de aprendizado e discussão da sétima arte, acompanhamos, e participamos da vida dele (My One Thousand Movies), torcendo para que ele tenha uma vida longa, evoluindo ainda mais, espreitamos dia a dia esperando por uma nova postagem do nosso saudoso, vocês sabem... O Grande Chico.
15/04/2010

O SILÊNCIO DA ESFINGE




Começar, começar, desta vez começo pelo início....o mesmo é dizer, no meu caso, que me iniciei no "My One Thousand Movies" pelo filme "Viva Zapata!", no qual me debrucei e com o qual me confortei, como se, castigado pelo frio, nele encontrasse um amável afago.


O que buscava, de que sentia a ausência, quando me lancei em busca dessa película?
Tão só os silêncios de Marlon Brando a preto e branco (silêncio mais denunciado, mais sofrido, mais só).
O preto e branco no registo das paisagens áridas do México, a angústia dos personagens, traduzida em suor nos rostos lustrosos e humilhados; o erotismo de tudo isso a dar o enquadramento adequado para os silêncios do actor de rosto esfíngico (qual Apolo imperturbável).


Ontem escrevinhava nas margens de um livro que lia mal lido, dizendo a mim próprio
que no mar de fluxos e correntes, de turbulência e paixão, de riso e esquecimento, a que chamam CINEMA, gosto de lembrar-me dos silêncios de Marlon Brando, delta onde desaguam os sedimentos da dor do mundo, em ondas de paixão contida.


zé alberto


14 de abr. de 2010

My one thousand theories - Manifesto editorial [em construção]

Quatorze de Abril de dois mil e dez

I
O My one thousand theories nasce filiado no blogue My one thousand movies, mina cinéfila da blogosfera, lugar de grandes obras da história do cinema, filmes raros, de culto, difíceis de encontrar, ficando-lhe desde já devedor de devoção.

II
Surge da vontade de debate em redor dos filmes disponibilizados e da sua relevância no panorama cinéfilo universal.

III
Pretende desenvolver-se sem barreiras, atento à produção actual, discutindo as vanguardas que vão assomando mundo fora. Mas acima de tudo deve obrigar-se a existir como um espaço com memória, reconhecendo o lugar de cada obra, a sua inserção e raiz histórica.

IV
A participação é aberta a todos os visitantes/utilizadores/comentadores, quer do My one thousand movies, quer do novo lugar que agora se inaugura, que a ela se predisponham

V
A participação não apresentará mais restrições que as do elementar do bom senso, devendo restringir-se ao tema Cinema. Assim, com maiúsculas.

VI
Como arte maior e integrativa, abrangente e apaixonante, não será desprezada nenhuma contribuição que, fundamentada, faça a ligação entre o Cinema e qualquer outra forma de intervenção.

VII
Como forma de agilizar um espaço que se pretende que tenha muitos contribuidores, qualquer um será livre de fundar séries ou rubricas, assim como continuar as já existentes.

VIII
Todos os contribuidores terão, não só o direito, como a obrigação, de afrontarem uma qualquer ideia apresentada por um qualquer outro contribuidor, sempre que a sua convicção seja contrária ao que foi escrito. Maior imperativo ainda serão os assentimentos apaixonados às talentosas teorias que aqui aparecerão.

IX
Sempre que algum contribuidor referir num texto um filme presente no My one thousand movies deve fazer um linque para esse mesmo filme. Atenção, não o linque para descarregar o filme mas o linque para o texto do My one thousand movies.


[Já tinha proposto este manifesto ao Chico e ao Murilo. Eles acharam boa ideia. A minha ideia é dar o pontapé de saída deste novo blogue, criando-lhe ao mesmo tempo, já desde o início, uma identidade. O Chico já criou o primeiro texto, agradou-me o simbolismo de ser o criador do blogue original a inaugurar esta sua extensão. Aqui fica agora a minha proposta. Façam uso da caixa de comentários para a decisão da sua continuidade aqui. Emendem-na, reescrevam-na.]

13 de abr. de 2010

I've seen things you people wouldn't believe

Cabe-me a mim abrir as hostilidades deste novo espaço. Um espaço que se irá desenvolver paralelamente ao My One Thousand Movies, mas onde qualquer um de vós pode expôr as vossas próprias teorias ou idéias acerca do mundo do cinema.
Se quiserem fazer parte desta comunidade, ou se apenas querem publicar um texto vosso, mandem um mail para myonethousandmovies@gmail.com. Com toda a certeza terão resposta.
Para começar, e como isto é um blog de CINEMA, deixo-vos com as imagens que ficarão para sempre gravadas na minha memória como as mais marcantes da história, para mim.
Obrigado.



I've seen things you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I've watched C-beams glitter in the dark near the Tannhauser Gate. All those moments will be lost in time, like tears in the rain. Time to die.