26 de jul. de 2010

Os maiores fracassos de bilheteira dos anos 00

Bem não tenho escrito nada no blog muito por causa dos meus exames... (anatomia grrrr), mas vi um artigo muito interessante que gostava de partilhar:


Basicamente o artigo descreve os maiores fracassos de bilheteira dos anos 00, no entanto só tem em conta o Box Office dos USA, ainda assim... vejamos os títulos:

10 - The Fountain (D. Aranovsky): Custou 35m, rendeu 10.1m: este compreende-se que tenha tido pouco sucesso pois é um filme díficil, até para cinéfilos experientes e é um filme que muita gente odiou, metade das críticas foram negativas, eu adorei, achei transcendente...

09 - Sunshine (D. Boyle): Custou 40m, rendeu 3.7m: embora o final comprometa pois é um pouco cliché, a viagem até ele é muito boa, muito na veia de 2001 odisseia no espaço, é um dos melhores filmes de Sci-Fi da última decada

08 - Serenity (J. Whedon): Custou 39m, rendeu 35.5m: é baseado naquela que é, a par com Battlestar Galactica, a melhor série de Sci-Fi de sempre e que foi injustamente cancelada a meio da primeira temporada, o filme embora lhe falte um pouco da genialidade da série foi um dos meus preferidos de Sci-Fi dos anos 00.

07 - Funny People (J. Appatow): Custou 75m, rendeu 51.9m: com Adam Sandler em papel príncipal e Appatow a realizador é díficil de entender porque é que este filme foi um fracasso, ainda para mais é o filme de Appatow que é mais bem conseguido e com mais piada, talvez tenha sido má publicidade. Facto interessante... é um filme sem efeitos especiais... ainda estou para perceber onde foi parar tanto dinheiro....

06 - Marie Antoinette (S. Coppola): Custou 40m, rendeu 15.9m: embora não seja tão bem conseguido como Virgin Suicides ou Lost in Translation é um filme bastante bom, e com um dos meus actores de eleição - jason schwartzman, que já agora faz uma série noir fenomenal chamada Bored to Death com os também geniais Zach Galaffinakis e Ted Danson

05 - Che (S. Sodderberg): Custou 40m, rendeu 1.7m: é a obra prima de Sodderberg e um dos grandes épicos da década passada, é um filme muito longo, mais de 4horas, mas que merecia ter sido visto na sua versão integral e não separado em dois. Del Toro faz uma das melhores performances da década...

04 - The New World (T. Malick): .Custou 30m, rendeu 12.7m: Malick é um dos actuais mestres do cinema, só que realiza poucos filmes, portanto sempre que ele nos proporciona uma das suas obras de arte deveria ser razão para meio mundo ir ao cinema... o que não aconteceu. É uma pena pois está é a melhor versão de sempre da história da Pocahontas... sim aquela história do filme da Disney e do Avatar...

03 - The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford (A. Dominick): Custou 30m, rendeu 3.9m: É talvez o melhor filme da década passada, e a seguir a Once Upon a Time in the West é o melhor Western de sempre, aliás Dominick "rouba" muitos planos ao mestre Leone... Uma cinematografia do mais bonito que há e uma das melhores performances de sempre em Casey Affleck... Tem recebido um pouco mais de atenção na edição DVD/Blu-Ray do que no cinema (o que por um lado é bom mas por outro é mau porque as pessoas perderam uma das melhores experiências cinematográficas dos ultimos anos) Recentemente soube da existencia de um Director's Cut de mais de 4 horas, mas que infelizmente não está disponivel em lado nenhum... é esperar que a Criterion pegue nele, era mais que merecido...

02 - Master and Commander: The Far Side of the World (P. Weir): Custou 150m, rendeu 93.9: O facto deste, e Sunshine, serem os piores filmes nesta lista mostra a importancia dela. Não é de longe uma obra prima, mas é um filme muito bom! Era para ser uma série de filmes mas depois do fracasso do primeiro acho que os estúdios não pegam mais nela...

01 - Zodiac (D. Fincher): Custou 65m, rendeu 33m: é um filme noir dos tempos modernos... tão bom quanto Se7en ou Fight Club e com o sempre fenomenal Robert Downey Jr, é no entanto um filme muito menos comercial dos que os outros do realizador, ainda se vai tornar num grande culto (secalhar até já se tornou...)


Toda esta lista para dizer o que? Aquilo que já todos sabemos suponho... Embora haja muitos filmes com muito exito que são muito bons (e eu adoro um bom blockbuster), nem sempre o sucesso do filme reflecte a sua qualidade... Esperemos que pelo menos um destes ganhe culto e seja reconhecido como um dos melhores filmes de sempre... O melhor exemplo de uma situação destas é Shawshank Redemption, foi um fracasso de bilheteira, não ganhou Oscares mas hoje em dia, muito devido ao IMDb, é visto como um dos melhores filmes de sempre... Assassination of Jesse James é melhor que Shawshank... precisam de mais alguma razão para verem todos os filmes desta lista??

24 de jul. de 2010


Stationary Traveller

(uma rumagem imaginária pelos becos e prateleiras, pelo pó e vielas, por montes e vales, na busca de 5 filmes para a lista que apresentei no MOTM)


O senhor de modos graves e gestos profundos que se plantou à entrada do videoclube que havianaquela tarde, ao cair do sol, dirigiu-me um gesto discreto, envergonhado até, com a mão mutilada em combate, convidando-me a entrar.Envergando um estimado fato de marinheiro, um atento papagaio trazia poisado no ombro, bicho de olhar fixo, que atentou em mim com olhos miudinhos, adormecidos, de olhar morto, lamentoso. E foi então que fiquei parado à entrada, passando pelo interior do videoclube um olhar pesquisador, não me apercebendo que entretanto um cachorro atrevido aliviara a bexiga nos meus sapatos… humilhados.

De bigodes fartos e envelhecidos, o capitão trazia sentados na cana do nariz uns óculos necessários, ele que assim figurado com traços românticos, aventureiros, representava a vitória da memória dolorosa num homem sobre quem o tempo julga, e com razão, que venceu, que derrotou.

E porque havia sido capitão de um navio pirata, e porque, cansado da pirataria rumou a Hollywood onde lhe atribuíram papeis de pirata em filmes musicais, nos quais cantava e dançava de espada em punho, ei-lo que justificou assim a alcunha de “Capitão”.

Fiquei contente por vê-lo ocupado, a não apodrecer no canto do tédio, arrumado, como o casco fossilizado dum barco rabelo que apreciei nas encostas do Douro, absorvido pelas raízes dasvideiras pródigas, que nele lambem o húmus da madeira carcomida para temperarem a casta.

Ele soube, nunca revelou como, que eu deambulava pelas vielas negras, esquecidas, estreitíssimas, farejando em velhos videoclubes de paredes já apodrecidas, de olho fixo nasprateleiras curvadas sob o peso das velharias. O que procurava eu então?

Vi-o retirar de trás do balcão um pequeno embrulho que farejei, excitado pela surpresa, e precipitei as mãos sôfregas para desbaratar o papel que envolvia 5 filmes, 3 deles subordinados aum lamiré: o discurso que emerge a partir da representação de representações, proporcionado um olhar atento a outras expressões visuais (“Pollock” ; “Caravaggio”) e conduzindo-se, por outro lado, por um discurso mimético em relação a outras formas de representação plástica (“Os Livros de Próspero”).

Se não incluí o conjunto dos 5 filmes nesse plano de análise tal se deve ao facto de olhar os dois filmes restantes num plano simbólico em que me atrevo a situar, senão todos os actores/intervenientes (“200 Motels”) pelo menos o protagonista (“Performance”) das duas películas.

Trata-se de ícones da cultura Pop, encerrando a sua figura uma simbologia que conduz o espectador a uma pré-leitura, à catalogação desse significante (um ídolo do meio musical), sendo difícil esperar que o espectador o veja como actor, mas antes como uma figura que é estratégicamente usada pela sua carga simbólica junto do espectador.

E então amigo? - Disparou o capitão. Pediu-me 5 filmes que pudessem corresponder de alguma forma aos anseios dos visitantes do MOTM com particular interesse em visionar registos cinematográficos nos quais se pode constatar uma interacção com outras formas de expressão artistica: a música e as artes gráficas. Aí estão eles! – rematou, incisivo.

Satisfeito pelo resultado da pesquisa por ele elaborada, fiz continência ao capitão e ao seu papagaio de plástico, virei costas e eis-me novamente na rua frequentada por gatos com ar lamentoso, adoentado; de embrulho debaixo do braço, ia já a virar a esquina quando uma voz autoritária lançou um grito de ordem, “ao ataque meus piratas!!!”

Era ele, o capitão, de espada em punho, que a custo procurava arrastar ambas as pernas doentes para me conseguir intersectar. O susto transformado em terror imobilizou-me os músculos e fez-me aceitar a morte que o sabre ferrugento que se erguia no ar me queria impor, trespassando-me e fazendo-me tombar sobre uma poça de sangue.

Os meus olhos transidos pelo terror viram chegar-se ao meu rosto a máscara acabrunhada queno rosto do capitão se desenhara, …e os ouvidos escutaram:“Esqueceu-se de pagar os filmes, meu amigo!!!”

Levantei o chapéu de palha e de pronto caíu do interior uma pepita de ouro africano que lhe deixei na palma da mão.

Tendo recuperado o ar nos pulmões, senti-me vivo novamente, ...dei um pontapé no traseiro do vento e prossegui caminho até aqui.


The End

19 de jul. de 2010



CINEMA E PSICANÁLISE


DEI, NUM DESTES DIAS, UMA ESPREITADELA AO "HISTOIRE(S) DU CINEMA" POR

JEAN-LUC GODARD, ONDE ELE, PENDURADO NUM LONGO E ABUNDANTE

CHARUTO, SE ABSORVE PELO QUE VAI BATENDO NA MÁQUINA DE ESCREVER.

E LÁ VI, POR EXEMPLO, A IMAGEM DE JOHN FORD, O TAL QUE NAS ENTREVISTAS

NÃO DIZIA NADA, PARA TUDO DIZER NOS FILMES.

E LEMBRO-ME QUE NA "CAVALGADA HEROICA" ELE VEIO DIZER QUE NOS FILMES

DO FARWEST OS INDIOS NÃO PASSAM DE UM ELEMENTO DO

CENÁRIO, REPRESENTAM O MAL EXTERIOR, MAS...SE NÃO HOUVESSE O

"EU" NÃO HAVERIA MUNDO EXTERIOR (UMA PROJECÇÃO NOSSA).

É NOS OUTROS QUE IDENTIFICAMOS E CASTIGAMOS AS NOSSAS FALHAS,

NOSSOS DEFEITOS, NOSSO MAL.


QUANDO O ASSASSINO CUMPRE O SEU PAPEL, É O SEU SUBCONSCIENTE QUE O

IMPELE A LIBERTAR O MUNDO DO MAL QUE EXISTE EM SI, QUE O ATORMENTA,

MAS QUE ESTE SÓ NOS OUTROS IDENTIFICA, SÓ NOS OUTROS CASTIGA.

NÃO FOI ISSO QUE NOS DISSE SCORCESE EM "TAXI DRIVER"?

E NÃO TERÁ SIDO ISSO MESMO QUE QUIS DIZER BERGMAN QUANDO, EM

RESPOSTA AOS ELOGIOS DESMEDIDOS QUE CERTA VEZ GODARD LHE DIRIGIA,

LHE MANDOU DIZER:"QUANDO FALAMOS DOS OUTROS, DE QUE FALAMOS NÓS

SENÃO DE NÓS PRÓPRIOS"?

15 de jul. de 2010


O dragão - animal mítico que pela sua maldade deu água pela barba a S. Jorge, posto

em cima de tão galharda montaria e enfiado em férrea armadura, nomeado pela

providência para dominar tal fera - que mora naquela gruta mesmo ao fundo do vale

está a conjecturar fazer-me uma visita. O que pretende a vontade dele? Aterrorizá-lo,

dizem-me. É o papel dele, ripostei eu.


Como fui avisado com suficiente antecedência, deixei pregado na minha porta um

papel que o avisava de que eu não estava, que estava em trabalhos, entretido a

escrevinhar as linhas que se seguem:


Cinema Noir

ou

O Drama da Redenção

(O enquadramento teológico, histórico e psicanalítico)


Parte I

Na versão teologica da criação do mundo que as Sagradas Escrituras sustentam, as

personagens Adão e Eva (os “filhos”), desobedientes, comeram do fruto que o “pai”

(Deus) amaldiçoou, o fruto que permite o conhecimento do Bem e do Mal.


Por tal, são condenados à condição de mortais e a viver num mundo

de padecimentos.

A sua descendência (Abel – o sopro de vida e Caím – a destruíção) simboliza o

conflito das duas pulsões que se manifestam no subconsciente e orientam a vontade

humana (a pulsão da vida (Eros) e a pulsão da morte (Thanatos)).


A vida do Homem desenrola-se através duma sucessão de episódios, passando ele

por

um conjunto de provações impostas pelo destino que lhe foi traçado pelo “pai”.

O regresso ao Paraíso é-lhe prometido, mas para tal conseguir, o Homem precisa

aceitar o sofrimento de que é vitima, precisa redimir, dessa forma, os seus erros, o

mal que semeou no mundo. A Culpa e a Redenção.


A Civilização Ocidental ergueu-se então sobre os fundamentos éticos postulados pelo

mensageiro do “pai” (Jesus Cristo). Ele padeceu e morreu às mãos dos “filhos” de

Deus para revelar ao Homem que este é dominado pelo Mal, e que só a humildade e a

aceitação o podem aproximar novamente do “pai”, como é bem evidenciado na

Paixão

de Joana D’Arc, filmada por Dreyer.


Parece-me evidente, como escreveu Freud, que a nossa vida assenta em repetições,

repetimo-nos pela vida fora, sustentava ele, sendo oportuno, penso, assinalar essa

pulsão no comportamento humano desde o alvorecer da espécie humana. Sempre

vimos, no decurso da História, o aniquilamento do “pai”, com o objectivo da auto-

afirmação, da fuga à submissão.