30 de set. de 2010


Tombs of the Blind Dead - la noche del terror ciego, Amando de Ossorio, 1971

Dr. Jekyll y el Hombre Lobo, León Klimovsky, 1972



Num, como noutro, é a Bela que desperta a Besta para a revelação desta perante os nossos olhos surpreendidos, meio assustados; é ela que convoca o monstro (a deformação de um corpo e, simultâneamente, de um espírito (perturbado)) à nossa presença.

A Besta que ataca a Bela (no primeiro caso) como se quisesse macular a perfeição de que foi irreversivelmente excluída; ou que a protege (no segundo filme) para, amando-a, poder fundir-se com ela e retornar a um estádio de cumplicidade com o mundo.

Daí que nestes dois exemplos de filme de Terror-Soft, o elemento CONTRASTE é explícito e bem demarcado.







26 de set. de 2010


Borsalino, Jacques Deray, 1970


Um piscar de olho ao teatro de Vaudeville, é o que se vê neste filme, um drama que é, no fundo, um pastiche de tantos lugares-comuns do filme de gangsters à maneira espampanante americana. E quem melhor para o protagonizar - terá pensado o realizador - do que a dupla de jovens vedetas, já de valores confirmados no cinema francês, nomeadamente no cinema de aventuras: heróis de perfil romântico, de semblante grave e abismal (Delon) alegre e destemido (Belmondo)!?

E como esquecer a sequência da descida da escadaria das "mariposas", tão luxuosamente vestidas, tão fanfarrões eles os dois ?!

24 de set. de 2010





As personagens do cinema Noir integrar-se-íam com certa justeza - no plano relacional - nas narrativas do escritor italiano do pós-guerra Alberto Moravia, pela sensação de desconforto, descrença e malignidade que transparece nas suas relações.


Fruto, em ambos os casos, da pena de escritores saídos do trauma da Segunda Guerra, o que as personagens evidenciam, na sua rumagem existencial, é que é muito mais forte aquilo que as separa do que aquilo que as aproxima.

























22 de set. de 2010


"O Cinema Noir...ou...o Drama da Redenção"

As Inspirações Noir (o cinema expressionista alemão)

Parte VI

No campo do cinema, a mais relevante fonte de inspiração do filme Noir é o expressionismo alemão dos anos 20. Esta corrente estética desenvolveu um estilo visual que serviu para simbolizar, através da abstracção, da deformação, da estilização, dos dramas impregnados de morbidez e fatalismo, temas que agradavam aos alemães devido à sua forte tradição romântica.

"O signo expressionista - dizia Roger Cardinal - ressalta as experiências emocionais do artista sob formas excepcionalmente vigorosas."

As influências do expressionismo estão presentes no Noir, sobretudo nos seus personagens envolvidos por neuroses. Os ambientes escuros e as tramas obscuras, demenciais, são factores que contribuem para o desespero destes personagens, assim como as sequências de pesadelos, que fazem com que os filmes se tornem altamente subjectivos, a partir do momento em que mostram ao público parte do que se passa na mente do herói.

Fugindo da Segunda Guerra Mundial, muitos cineastas alemães emigraram para os EUA; falamos de Fritz Lang; Robert Siodmak; Billy Wilder; Otto Preminguer.
Estes directores encontraram aí um terreno fértil, dirigindo filmes de baixo orçamento, os chamados filmes série B que permitiam certo grau de inovação. Mas é no Noir que tais realizadores encontraram a possibilidade de experimentação e introdução de influências cinematográficas trazidas do seu país de origem para Hollywood.

20 de set. de 2010


Au hasard Balthazar, Robert Bresson

A este filme-milagre coloco-o no mesmo saco em que deposito as obras de perfil religioso dos pintores medievais, de Giotto a Rafael.
Este é um filme que nos fala da descida aos infernos, uma recriação da Paixão de Cristo.

Filme tão complexo, prato em tão simples lume confeccionado, contudo. E se falo em lume, falo também na fogueira em que ardeu Balthazar, que passivamente deixa - tal como na Paixão de Cristo - o seu destino nas mãos dos que o agrediram, o mal, supremo mal que atormentou Balthazar, um santo - nas palavras da velhota.
Tocado pela Graça de Deus, martirizado trilhou o caminho da redenção... tal como se escreve nos Evangelhos.

As poses piedosas de Marie (Mãe, que adoptou e baptizou o pequeno burrito; e prostituta, que se entregou aos que fizeram mal ao seu Balthazar, com o intuíto de o proteger de mais sofrimento) foram sempre as poses duma pietá - mãe de Cristo, velando o seu filho morto, descido da cruz.

Este, que é um dos mais belos e trágicos filmes da historia, deixa-nos confrontados com a nossa pequenez, estremeção da alma, que ao visionar esta obra fica prostrada como o corpo de Cristo no regaço de sua mãe.


17 de set. de 2010

Visitor q, Miike Takashi, 2001


A Lei da Compensação risca, traça rumos no campo da Psicologia. Que um chefe de família falhado no seu trabalho como repórter, compense essa falha com a realização de uma reportagem caseira sobre a juventude japonesa, passa necessáriamente por fazer concessões à perversidade tão explicita de que a sexualidade na sociedade japonesa actual faz espelho.
Filme-montra da desagregação dos valores tão enraízados numa sociedade fortemente marcada pela tradicão. Perversidade que se mostra nas práticas sexuais das personagens, bem como na radical desagregação moral dos valores de um povo.

Um vídeo caseiro é o poder na mão dum pobre e falhado repórter de se sentir um semi-deus, formar o seu Olimpo de que ele é o Zeus, no próprio microcosmos familiar.
Realizar um vídeo caseiro para posterior divulgação faz-me recordar o filósofo que falava na invasão do "espaço público" pelas particularidades das histórias privadas.

16 de set. de 2010



Servo designado pelo Senhor para ministrar a criação das nações e a diversidade das gentes, Abraão é aqui convocado por Agustina & Oliveira para tornar o vale do seu regaço um altar sacrificial onde, mais uma vez, é desafiado a sacrificar um dos seus filhos - Ema, a mulher moderna, que de ousadia vestiu a sua postura, sendo por isso excluída do seio humano, partindo, derrotada pela solidão, para o sacrificio nas águas do rio, transportando consigo a condenação que o seu carrasco (Pedro Lumiares) lhe expressa.

15 de set. de 2010


A vagua era nova...

Nesta vaga - post-modern cinema pelas mãos de Godard, que a recupera, a ela, actriz que foi implacável em Lilith, e mais uma vez levou ao tapete, de desespero confeccionado, um homem iludido, Quixote revivificado.

11 de set. de 2010


" O CINEMA NOIR ... ou ... O DRAMA DA REDENÇÃO"

Capitulo V

As Inspirações Noir (as novelas policiais)


As histórias escritas, nos anos 30, por Dashiell Hammett revolucionaram a forma dos romances policiais, inserindo acção, sexo, violência. Dotado de uma escrita coloquial na qual se observava um ritmo solto, rápido, uma linguagem directa com aspecto típico americano. Saem de cena, portanto, os detectives gentleman, de perfil inglês, e entram em cena os detectives "duros", de linguajar pouco rebuscado.

Hammett traz os crimes para a cidade, o ambiente e as sensações que nesse cenário se passam tornam-se mais importantes que a intriga. Os romances policiais passam a ter gente de carne e osso: matadores de aluguer, policias corruptos, prostitutas, chantagistas, traficantes e detectives particulares que são pessoas comuns e não "máquinas pensantes de desvendar mistérios".

Existe uma clara relação entre a história deste novo tipo de detective e o método narrativo de Hollywood. Por exemplo, a exposição da intriga e a caracterização das personagens tendem a ser económicos; o diálogo é breve e os capítulos terminam com uma súbita revelação ou uma acção interrompida abruptamente.

O mundo noir que estes romances policiais ajudaram a dar corpo é mais psicológico que físico, e caracteriza-se principalmente pelos sentimentos que aos poucos destroem as personagens e o medo da descoberta do crime. São enredos vividos por pessoas sem grande importância, desesperadas e solitárias.


9 de set. de 2010


"O CINEMA NOIR ... ou... O DRAMA DA REDENÇÃO"

Parte IV

As Inspirações Noir (a Literatura)


A influência literária, dizem os manuais, vem das Pulp Magazines, revistas impressas em papel barato. A revista Black Mask é a grande inspiração, lá surgiu a escola hard-boiled de histórias de detectives, marcada pela presença de detectives durões que usavam mais os punhos do que o cérebro.

Estas revistas, cuja génese se dá nos principios do século, tiveram o seu apogeu entre 1920 e 1945. Eram revistas especializadas nos géneros: Western; histórias fantásticas; de guerra; de detectives, etc.

O género Noir era cultivado em histórias de crimes nas grandes cidades. O ambiente e a sensação que os seus enredos transmitiam (ao explorarem a psicologia das personagens) tornaram-se mais importantes do que a intriga.

O mundo Noir é dicotómico, de um lado temos o submundo com os seus crimes, violência e vício, e do outro temos o mundo "respeitável" da propriedade burguesa. Um mundo duplo no qual o herói é inserido, o que o deixa confuso sobre o que se passa ao seu redor e sem saber em quem confiar, pois aqueles com quem se envolve são mentirosos, corruptos, perversos, ameaçadores ou violentos.

Durante toda a narrativa o herói tem a sua inteligência e integridade testadas, o que o protege é a sua visão desconfiada acerca do que leva as pessoas a tomarem determinadas atitudes. Este herói esforça-se por pôr ordem no mundo Noir; isto está patente, por exemplo, na busca do controlo da sexualidade feminina que ameaçava os padrões da época.

Todos estes elementos encontrados na literatura Noir, tornam-se um prato apetecível para Hollywood.

8 de set. de 2010



Lee Van Cleef ... aristocrática figura entre brutos... num cinema bruto... Western Spaghetti... o circo onde o agreste leão dá caça ao crocodilo feroz, que - exibindo as mandíbulas à corrupção do vento - morde a gazela venenosa.