10 de mai. de 2010

Woody Allen e a pergunta: "Porque vale a pena viver?"





Texto Original
"An idea for a short story about ... um ... people in Manhattan who ... er ... are constantly creating these real unnecessary neurotic problems for themselves - because it keeps them from dealing with more unsolvable terrifying problems about ... er ... the universe - Um, tsch -- it's, uh ... well, it has to be optimistic. Well, all right, why is life worth living? That's a very good question. Um. Well, there are certain things I - I guess that make it worthwhile. Uh, like what? Okay. Um, for me ... oh, I would say ... what, Groucho Marx, to name one thing ... uh ummmm and Willie Mays, and um, uh, the second movement of the Jupiter Symphony, and ummmm ... Louie Armstrong's recording of "Potatohead Blues" ... umm, Swedish movies, naturally ... "Sentimental Education" by Flaubert ... uh, Marlon Brando, Frank Sinatra ... ummm, those incredible apples and pears by Cézanne ... uh, the crabs at Sam Woo's ... tsch, uh, Tracy's face ..."

Texto traduzido caso necessário (nota-se que perde alguma da improvisação do monólogo)
"Uma ideia para um conto sobre pessoas em Manhattan que constantemente criam estes problemas reais, desnecessários e neuróticos em que se metem porque as impedem de pensar nos problemas insolúveis e aterradores do universo. Vamos... Bem, tem de ser optimista. Bom, tudo bem, por que vale a pena viver? Essa é uma boa pergunta. Bem, penso que há certas coisas que fazem com ela que valha a pena. Hm, Como por exemplo? OK... para mim... Diria Groucho Marx, é uma delas... E o Willie Mays. E... o segundo movimento da Sinfonia de Júpiter... a gravação de Potato Head Blues do Louis Armstrong... Filmes suecos, naturalmente. A "Educação Sentimental" de Flaubert... Marlon Brando, Frank Sinatra... Aquelas maçãs e pêras incríveis de Cézanne, hum, carangueijo no Sam Woo's.... O rosto da Tracy."

Esta é uma das cenas mais famosas do filme Manhattan, escrito, protagonizado e realizado por Woody Allen em 1979. Aqui, em particular, enquanto grava a sua própria voz e vai memorizando algumas das suas ideias, a personagem interpretada por Woody Allen (Isaac) acaba por se perguntar: "Why is Life Worth Living?", em Português, podemos traduzi-la para um mais simples "Porque vale a pena viver?" ou "Porque vale a pena a vida ser vivida?" (encontrei das duas formas em diferentes traduções)

Agora, vou directo ao assunto que me fez escrever este post. O objectivo é lançar-vos um "desafio". Já devem ter adivinhado do que se trata, o que eu propunha é que vocês mesmos respondessem a esta pergunta. Se tiverem a oportunidade de elaborar uma resposta, peço-vos que a façam unicamente à vossa maneira, claro que não precisam de fazer um texto tão curto, vago e resumido como o original (ainda por cima com tal questão!).

Tomei a iniciativa de tentar começar eu com a minha resposta, fi-la da forma mais improvisada possível. Não consegui mesmo resumir-me como o Isaac no monólogo do filme (e já foi difícil resumir tanto), mas quis escrever da forma mais instantânea possível para me manter minimamente fiel ao espírito que queria que o monólogo transmitisse.

Neste momento imagino-me no corpo daquela personagem e respondo-me à mesma pergunta:
"Porque vale a pena viver? Hm, é uma pergunta que poderia ter uma resposta diferente consoante o dia e disposição. Mas vou seguir as minhas convicções de hoje e falar dos primeiros motivos que me vêem à memória. Hum, começo pelo Cinema.... e que motivo...! O facto de saber que ainda tenho e poderei ter TANTO para ver dá-me uma alegria quase deprimente!... Nele há o humor de Woody Allen (pois claro), os rostos de Bergman, a postura do Chaplin, a ousadia do Bertolucci ou o perfeccionismo do Kubrick (...) Do outro lado da câmara, há a fragilidade da Audrey Hepburn, a beleza distante de Catherine Deneuve, o sorriso da Audrey Tautou, ou as sobrancelhas da Natalie Portman. Mais razões? Fernando "Pessoas"... Oscar Wilde... Bach e Chopin... Jimi Hendrix... Charles Dickens... Vodka, Tequilla e a siesta da tarde, o prazer carnal partilhado e sentido... Portugal, os nossos irmãos brasileiros cheios de ritmo. Falar de Tom Jobim é preciso claro... Tom Waits, Louis Armstrong e os "roucos" deste mundo. A "Stairway to Heaven","What a Wonderful World" ou a sempre nostálgica "Smells Like Teen Spirit". Há o inesperado, o desafio arriscado que é viver, a infância, a descoberta! Hm, também a "Madonna" de Munch e as ilusões ópticas de Escher. Dali! Magritte! O aventureiro Errol Flynn! ... Documentários sobre animais selvagens num Domingo de manhã. O meu acto de tentar imitar o penteado do falecido River Phoenix e nunca conseguir. Vozes femininas como as de Ella Fitzgerald, Nina Simone, Björk, Janis Joplin, Patti Smith, Joanna Newsom ou Maria Callas (...)! Há o fiambre de peru, o salmão grelhado, maçãs absolutamente verdes e duras, uma canja de galinha depois de uma noite de "borga"... chocolate branco! Morango e tudo o que se produz a partir dele... Caminhar descalço sobre a relva molhada, correr através de um enorme campo de trigo. Ser espontâneo e quebrar a monotonia qual "Singin' in the Rain". Mas principalmente, há o sonho de viajar pelo mundo e o desejo de deixar uma marca significativa em algo ou alguém antes de partir. E claro, porque não? O Amor!"

Pode parecer cliché, mas é como vimos no mais recente filme de Woody Allen, o Whatever Works (conhecido como "Tudo Pode dar Certo" tanto em Portugal como no Brasil, penso) quando a personagem Boris diz que "às vezes um bom cliché é a melhor forma de nos expressarmos". Não podia concordar mais e o meu texto segue esse espírito. Na próxima semana poderia dar uma resposta totalmente diferente.

Obrigado, esta foi a minha primeira participação directa nas mensagens do Theories. Parabéns pelo que já fizeram no blog!

3 comentários:

Frederico disse...

ahhh woody, quiçá o meu realizador preferido... tendo visto toda a sua obra manhattan mantem-se o meu preferido... sao coisas destas q tornam woody especial e, a par com tarantino, o melhor escritor para cinema que o mundo tem actualmente... vou pensar no desafio, mas já agora parabéns pelo post!

Flávio Gonçalves disse...

Gostei muito deste post; Woody Allen assume-se hoje como um génio (talvez distante?), um filósofo quase marginalizado - e leva a sua condição da melhor das formas. A rir.

Anônimo disse...

Estive pesquisando na Internet tentando encontrar idéias sobre como obter o meu blog pessoal codificado, o seu atual estilo e tema são maravilhosos. Você código de sua própria ou você contratar um programador para fazê-lo para você pessoalmente?