Não cheguei ao My one thousand movies à procura de nenhum filme. Cheguei de linque em linque. De blogue em blogue. Foi como ser criança numa loja de doces (ou, sejamos cinéfilos, visitante na fábrica de Willy Wonka), o milionésimo cliente de uma livraria favorita, premiado com a permissão para assaltar as prateleiras.
A estreia fez-se com Fellini. La strada. Não foi cumpridora do espírito alternativo do blogue mas o que é óbvio não perde valor por sê-lo. Manter a originalidade sem perder de vista as obras históricas é um mérito inegável do MOTM. E La strada será, porventura, o melhor road movie de sempre.
Mais do que atravessar Itália, cruza-se a decadência e fome dum país. Era isso, afinal, o neo-realismo. Zampanò a figura opressora, de hábitos perversos, não era mais do que o reflexo da sua época. Era o que as circunstâncias fizeram dele. Acaba o filme chorando Gelsomina, morta por sacrifício e amor. Morta de tristeza, por ser mulher, por não poder ser dona de si. Personagem mulher eterna, o lado feminino e martirizado de Chaplin, de Keaton, que nunca sorriu em cena, jamais repetido. Os dois e o louco, num bailado pungente. Lutando pelas alegrias possíveis, das quais Zampanò já desistira. Talvez por isso seja ele quem sobrevive, mesmo que consumindo-se para sempre.
5 comentários:
Só uma contribuição apressada para interromper a semana de silêncio ;)
Bela escolha para o primeiro, Xavier :)
Parabéns pelo texto, Xavier. Está breve, conciso, numa escrita sedutora. Sinceros parabés !
legal o blog, Xavier.
Obrigado pelos comentários ;)
Biel, a responsabilidade disso é inteiramente dos meus colegas de escrita :)
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