4 de jun. de 2010

Os Gritos de Hitchcock


O curioso sobre a história das artes, é que podemos dizer que determinadas formas de fazê-la em tudo que esta palavra abrange foi desenvolvida por pessoas de especial talento. Assim, é possível afirmar que o cinema feito por suspense não seria o mesmo sem o Mestre do género, isso é bem óbvio.

Entre os apaixonados por cinema, podemos notar que dentre toda a filmografia de Sir Alfred há sempre um filme capaz de agradar, ou seja, alguns não adoram
“Vertigo”, mas idolatram “Suspicion”, parece que sua carreira foi construída com base nessa mentalidade. E não é difícil de entender por que este nome é tão forte, sua preocupação com elementos simbólicos e de interpretação pessoal, não é igualável a Kubrick, mas foi importante para toda a safra colhida nas décadas seguintes ao seu surgimento, porem o que talvez mais chame a atenção em sua técnica é o uso da câmera, mas não é sobre isso que trata este texto.

Ao assistir um filme há sempre uma “Silaba Tónica” que soa mais forte, e que ao passar do tempo te faz lembrar a fita. No conjunto da obra do Mestre do suspense é possível elencar os gritos infernais de seus personagens, que nos proporcionam momentos de adrenalina maior do que muito filme dito pesado.

Na primeira cena de Vertigo acompanhamos a perseguição de
James Stewart e seu amigo a um suspeito sobre os telhados de São Francisco, Stewart salta, escorrega e faz espatifar um pedaço de telha. Seu amigo tenta ajudar e o som é agudo, forte, como se estivesse caindo em um abismo em direção ao inferno. Em seus minutos iniciais, “Vertigo” já disse tudo com apenas um som, “O som perfeito”. O jogo de câmera e montagem empreendido por Hitchcock chama a atenção, mas, o que também impressiona, dentro do cinema, é a utilização do som, o tão chocante grito que expressa “acho que esse é o fim da linha”, é algo que causa mais terror do que qualquer cena de “jogos mortais”.

“O Homem que sabia demais” com todo aquele humor inteligente que não prejudica em nada a tensão forte que causa a cada instante, é um filme que carrega certo ar de sátira, não sei se o mestre quis brincar em sua refilmagem, pois ainda não vi a primeira versão. Doris Day a Renee Zellweger do seu tempo, põe a cereja no topo de uma das cenas de maior nervosismo e apreensão do cinema, com o seu grito alarmante no espetáculo do grande Bernard Herrmann. Outra questão neste filme é a brincadeira de misturar ficção e realidade já que quem assina a trilha é como de costume o Bernard Herrmann.

Provavelmente a cena do chuveiro de
"Psicose" é a mais famosa do mundo e foi preciso apenas uma vitima feminina, um ambiente claustrofóbico onde ocorre o maior numero de acidentes em uma casa, uma faca, uma música e um grito, ou melhor, o grito, que alem de muita crueldade carrega muita sensualidade..

Outro filme que merece ser citado é "Interlúdio”, embora seja um filme de sussurros (espionagem) exprimi o sentimento de desespero que o grito demonstra, em cenas como aquela em que
Ingrid Bergman sendo levada ao quarto tendo a consciência de que esta sendo envenenada, e a de Claude Rains voltando para casa de cabeça baixa sabendo de sua morte certa pelas mãos de seus amigos.

A noção que Hitchcock tinha do mundo físico e do inconsciente humano era literalmente e figurativamente assustadora transformava os acontecimentos banais de seus filmes no mais terrível pesadelo, como o idealismo nazista, egoísta, esnobe e doentio que é o tema central de
"Rope 1948" (meu preferido do mestre), que tem seu inicio com um grito daqueles que temos pedindo por ajuda quando acordamos de um pesadelo, e nesse caso o pesadelo esta só começando, pois o absurdo habita na mente das pessoas. Hitchcock foi um dos grandes mestres das artes, e só não é aplaudido por aqueles que ainda não lhe deram oportunidade.

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