20 de set. de 2010


Au hasard Balthazar, Robert Bresson

A este filme-milagre coloco-o no mesmo saco em que deposito as obras de perfil religioso dos pintores medievais, de Giotto a Rafael.
Este é um filme que nos fala da descida aos infernos, uma recriação da Paixão de Cristo.

Filme tão complexo, prato em tão simples lume confeccionado, contudo. E se falo em lume, falo também na fogueira em que ardeu Balthazar, que passivamente deixa - tal como na Paixão de Cristo - o seu destino nas mãos dos que o agrediram, o mal, supremo mal que atormentou Balthazar, um santo - nas palavras da velhota.
Tocado pela Graça de Deus, martirizado trilhou o caminho da redenção... tal como se escreve nos Evangelhos.

As poses piedosas de Marie (Mãe, que adoptou e baptizou o pequeno burrito; e prostituta, que se entregou aos que fizeram mal ao seu Balthazar, com o intuíto de o proteger de mais sofrimento) foram sempre as poses duma pietá - mãe de Cristo, velando o seu filho morto, descido da cruz.

Este, que é um dos mais belos e trágicos filmes da historia, deixa-nos confrontados com a nossa pequenez, estremeção da alma, que ao visionar esta obra fica prostrada como o corpo de Cristo no regaço de sua mãe.


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