22 de abr. de 2010

JCM e o seu famoso Audiobook

Desde já queria agradecer a todos os que criaram este blog por poder nele participar. É um prazer estar no meio de tantos fãs da 7ª arte. Agradecimento especial ao Chico pelo grande blog que criou e que é muito mais serviço público do que aquele que o nosso estado e a nossa televisão nos oferece.

Passando ao post propriamente dito...

Tenho pena que com tantas obras de arte no cinema, se continue a falar tanto sobre JCM, porque sinceramente acho que não merece a nossa atenção. Quem acompanha o fantástico blog que o Chico criou é capaz de já conhecer o meu ponto de vista sobre JCM, mas já que se fez um espaço para discutirmos cinema, aqui vai, pela última vez, a minha opinião acerca de JCM.

Admito desde já que não sou grande fã. Vi a trilogia de João de Deus e um pouco do Branca de Neve. Gostei de Recordações da Casa Amarela (embora achasse que tinha muitas cenas ridiculas, pintelhinho pintelhinho és um belo pintilhinho??...), os outros dois filmes da trilogia foram-me completamente indiferentes (e com outras tantas cenas rídiculas como a da gelataria...). Já Branca de Neve não o foi, mas não o foi pela pior das razões, porque senti que um pretencioso "auteur" estava a gozar com a minha cara de ignorante do "povo portugues".

Vamos lá ver uma coisa (que não seja um ecrã negro)... poderei eu editar um livro sem palavras?? ou compor uma música que seja silêncio?? e "pintar" um quadro que seja uma tela em branco?? Secalhar até podia, e talvez haja quem achasse que eu era um grande inovador que sabia que o verdadeiro significado da arte é fazer as pessoas pensar. Podia justificar que não gostava de coisas fáceis e que queria compor uma música para fazer com que as pessoas que possuem o sentido de audição podessem imaginar o que é música para uma pessoa surda, ou que queria que todos se tornassem escritores e imaginassem o seu próprio livro.
Como estas haverá muitas outras explicações que eu podia dar, JCM por exemplo quis fazer um filme para se ver com o olho do cú... O problema destas explicações é que são, num termo simpático, ridículas, porque um livro só é um livro se tiver palavras e uma música só é música se tiver sons... e um filme só é um filme se tiver cinematografia...

Há obras que são díficeis, que pouca gente do público geral, gosta. Lembro-me por exemplo das duas últimas obras do escritor James Joyce. Pouca gente haverá que, não sendo estudiosa na area das letras, tenha prazer ao ler Ulysses ou Finnigan's Wake, mas de facto não pode haver ninguém que diga que estes não são livros...
Este exemplo aplica-se também ao cinema... não haverá por exemplo, muita gente a se dedicar aos 450min de Sátántángo. Mas Branca de Neve não é um filme difícil, porque pura e simplesmente não é um filme, falta-lhe cinematografia, que é o que define cinema...
Claro que haverá quem diga que o filme vai para além de uma definição purista de cinema, mas não será isto uma desculpa fácil? Como pode uma coisa ser o que não é?

O triste nesta história toda é que pouca gente que é fã de Branca de Neve admite que a obra (já não lhe chamo mais filme) tem de facto uma definição. Branca de Neve é um audiobook... pode ser uma história belissima (sinceramente a mim não me cativou), mas não deixa de ser um audibook. Se me vendessem Branca de Neve como um audibook eu não teria razão para não gostar de JCM, apenas não gostava da sua obra mas o facto de me ter sido dito que isto era um filme, principalmente por aqueles que deveriam saber melhor que ninguém definir o que é um filme, revolta-me como fã da própria arte do cinema.

Não tenho conhecimentos suficientes para dizer se Branca de Neve é uma obra de arte... talvez até seja, mas de uma coisa tenho a certeza, cinema não é.
Arte - talvez
Audiobook - sim
Cinema - nunca

JCM pouco me diz, acho-o antipático, pretenciso, o tipo de artista que se acha mais que os outros e que não sabendo mais o que fazer para dar nas vistas tentou ser polémico para não se esquecerem dele quando morreu (infelizmente conseguiu e pos muita gente a falar, o que escrevo aqui é exemplo disso mesmo).

Eu, quando quiser ver bom cinema Português, vejo um filme do Mestre. Ao senhor JCM mando-o foder, tal como ele me mandou a mim.


Filmes:

4 comentários:

Anônimo disse...

Acho que também já conheces a minha opinião, acho Branca de Neve um acto falhado. Escrevi-o no fórum, escrevi-o na caixa de comentários que antecede esta. A partir daí desmerecer toda uma obra acho extraordinário. A verdade é que os critérios que usas para enjeitar o Branca de Neve, não podes usá-los nos restantes filmes do realizador. Não gostas deles, estás no teu direito. Chamares-lhe ridículos, enfim… Fazer a avaliação de toda uma obra pela apreciação da personalidade do autor parece injusto e forçado. À uma distinção a fazer, parece-me a mim. Dou-te um exemplo, detesto o José Saramago e adoro alguns dos seus livros. José Saramago tem uma existência mediática, além da existência como escritor, coisa que JCM não tinha, logo não tinha essa responsabilidade. Pegar naquelas declarações que fez à saída da estreia do filme, actividade que muitos dos seus detractores gostam de fazer, é o utilizar de uma arma apenas porque não há outra. Ou então já chegámos ao ponto em que não se entende a ironia. Não se entende que João César Monteiro estava a despachar um jornalista impertinente. Não, João César Monteiro também não fazia anos naquele dia. Já chegámos ao ponto onde tudo tem de ser linear para que tenha o direito a existir. É o tal ponto onde não pode existir fumo de tabaco e sal no pão.

“O triste nesta história toda é que pouca gente que é fã de Branca de Neve admite que a obra (já não lhe chamo mais filme) tem de facto uma definição. Branca de Neve é um audiobook.”
É isso mesmo, tem de existir uma formatação, uma classificação que delimite o espaço de cada obra. Tudo arrumado em caixinhas.

Se ainda se fala (e sempre se falará) de João César Monteiro é porque ele foi um dos maiores cineastas que este país já viu. Foi o único, além de Manoel de Oliveira (Cannes), a vencer um grande festival internacional (Veneza). Ao reduzires o cinema português ao Mestre (penso que te referes a Manoel de Oliveira, apesar dele não aceitar o epíteto), está a desmerecer não só JCM como todo um conjunto de outros realizadores portugueses com algum bom trabalho já realizado.

Frederico disse...

Não estou a desmerecer o resto dos realizadores, apenas dei o mestre (obviamente Oliveira) como exemplo. Não comparei o resto da obra de JCM a Branca de Neve, e até gostei da Casa Amarela como disse, chamei ridiculo a algumas cenas como por exemplo a dos pintelhos e da gelataria... mas talvez o proprio JCM quisesse que fossem rídiculas. Não chamei a toda a sua obra ridicula, até porque nem a vi toda. Quando ao homem, acho que ele não estava a ser ironico naquela intervista, até me ri um pouco na primeira vez q vi, mas depois de ver outras tantas entrevistas com JCM percebi que ele de facto se acha superior e que era a sua verdadeira intentenção mandar-nos todos f****. Quanto a mater tudo em caixinhas, não é esse o meu objectivo como alias se percebe bem pelo texto, mas de facto não se pode chamar as coisas pelos nomes que não são. Um filme sem imagens NAO é um filme, um livro sem palavras não é um livro, uma música sem som não é música.... não entendo como alguém consegue defender o contrário...

Anônimo disse...

“Eu, quando quiser ver bom cinema Português, vejo um filme do Mestre. Ao senhor JCM mando-o foder, tal como ele me mandou a mim.”
Isto parece-me pôr de lado a obra de João César Monteiro, e interpretá-la segundo a pessoa do seu autor. Autor que aparecia também nas suas entrevistas como uma criação sua de si próprio. Ele começou a confundir-se com a sua personagem. Aquela afectação que transparecia não era exibicionismo nem superioridade, era um sobressalto, uma defesa contra o que dele se dizia. Desordem genuína. O público português que ele ataca não é o público em geral, é o público que se revê no trabalho daquele entrevistador e no foguetório do serviço público de televisão. Naquele caso estava apenas a enxotar os que o rodeavam à espera de sangue. Isso é óbvio para mim.

Volto a dizer que não defendo o Branca de Neve. Um acto falhado, terceira vez que o escrevo aqui nestas caixas de comentários. Não vejo futuro em filmes de ecrã preto. Mas quando aplicas a tua versão redutora esqueces-te que o cinema é uma arte abrangente, que acolhe no seu seio todas as artes. JCM reduziu-o apenas a um dos seus componentes. Falhou, mas tentou.

Abraço

maria disse...

concordo com o xavier quando diz que é um acto falhado,se formos ver um filme "normal" com todos os seus componentes e fecharmos os olhos, certamente teremos mtos mais estimulos a todos os nossos outros sentidos, já se percebeu que jcm não quis fazer um filme pa cegos, mas ainda assim a forma como a história é lida não gostei, poderia ser um um exercicio estetico no grande ecrãn, sem imagem mas que me cativasse na sonoplastia, que me estimulasse todo o resto do sensorial, não o fez, não gosto, mas gosto mto da sua obra, acho-o um realizador genial por conseguir um sentido de humor absolutamente transversal e retratar muito bem certos "cantinhos" do nosso portugal. Um pouco como aconteceu com o manuel joão dos catitas e o seu candidato joão ou orgasmo carlos, tb jcm se começou a fundir com o joão de deus, e o enfant terrible agudizou-se, é a minha opinião.gosto da cinematografia dele mas não desta branca de neve. não me parece que o tenha feito por provocação eu acho que ele acreditou que iria conseguir qq coisa , o quê não sei e para mim não conseguiu.