26 de abr. de 2010

“OS MEUS FILMES DO BLOG”



Morte em Veneza


Parte I

(uma primeira impressão, em jeito de balada)

Quando se cumprem os 5 primeiros minutos de Morte em Veneza, cumprem-se “os meus 5 minutos de cinema”, feitos de romantismo profundo, quanto o deve ser a profundidade negra daquelas águas obscuras, tão obscuras como os fumos exalados pela chaminé do Vaporetto, qual barquinho de brincar, que logo desaparece do plano.

Signore Visconti, aristocrata, dos Visconti de Milão, outrora donos de parte da cidade, criador de cavalos, encenador de ópera, realizador de cinema e tudo, tudo pôs neste filme tão autobiográfico. Aqui esboçou o que pretendia fosse o filme seguinte, adaptação do imenso “Lá Recherche du Temps Perdu” de Proust; projecto a que nunca chegou a deitar as mãos, e Lá Recherche se corporizou sobretudo neste filme, filme de olhares, escrito sem quase falas nenhumas, escrito pelo silêncio cúmplice dos 2 protagonistas (o professor Gustav e o jovem Tadzio) que se entre-olham constantemente, escrito pela câmara de Visconti que olha constantemente os mestres da pintura impressionista do séc. XIX francês, nestes cenários novecentistas, para traçar a história do professor que figura a decadência física e moral, o declínio, a morte.

Um filme do tempo que passou, à lá Proust.

Os minutos do professor Gustav no bordel são minutos de pintura, minutos em que contemplamos Renoir (o pintor) e Toulouse de Lautrec (também). No resto é James Ensor (pintor belga, pintor de máscaras) e Manet pelo guarda roupa, Manet pleno de luz… cheio de graça (divina).

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