24 de abr. de 2010

Neo-Western, o agradecimento devido a Clint Eastwood


Que ninguém duvide, o western é um género cinematográfico de excelência. Foi um dos alicerces da indústria do cinema americana, foi dele que saíram obras incontornáveis, marcos da história fílmica. Não é preciso ir longe, mesmo aqui em baixo se encontrarão muitos dos exemplos de que falo. Cúmulo da injustiça, sinal de ingratidão, foi o género sacrificado da primeira grande crise que abalou Hollywood. Quando Scorsese, Coppola, os movie brats, a reergueram, o western não se reergueu com eles.

Houve, felizmente, quem não se conformasse. Clint Eastwood, há coincidências brilhantes, o seu nome é um anagrama de Old west action, preparou-se para a travessia do deserto. Fundou a sua produtora, a Malpaso, e fez-se ao caminho. Demasiado novo para que se deixar ficar encostado aos velhos mestres, mais velho que os jovens que despontavam, fundando caminho próprio, não abandonou as suas convicções. Devoto à sua ideia de cinema tornou-se realizador e protagonista dos seus westerns. Mais do que o redutor título, o último clássicos, Clint Eastwood refundou um género. Depois da longa cruzada foi-lhe justamente reconhecido o estatuto de autor. O Neo-Western é também, mas não só, o revisitar da grande planície americana. Vai buscar a sua essência mais funda, a necessidade de vingança, a luta contra a ganância. O ideal americano de justiça. Se possível for mantendo aridez do cenário. Mas se preciso for trazendo esses ideais para fora do oeste, veja-se Bronco Billy. E não é Gran Torino um western em ambiência urbana?

Começa agora a surgir quem de novo sirva o género. Não prescindido da memória, respeitando sempre o que já se fez, homenageando os mestres. Os novos westerns reconstroem a América assente em nostalgia e tradição. Respeitam a secura do estilo mas redesenham os enquadramentos em câmara lenta, numa leveza e paciência que não desconsidera a cadência acelerada de Ford, Hawks, Mann, Peckinpah e tantos outros.

A mim é o tipo de vanguarda que me agrada, com memória. Os pés e o coração assentes na história, o cérebro descortinando novos caminhos.

O título em português de Pale rider (1985), “Justiceiro Solitário”, assenta brilhantemente em Clint Eastwood. Sempre que acabo de ver um dos seus filmes, faço-lhe uma vénia. Todos lhe devemos isso. E muito mais.

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